Duas pesquisas realizados no Mestrado em Administração do Centro Universitário Unihorizontes mostram que o exercício da profissão de motorista de aplicativo por mulheres constitui uma forma de empoderamento feminino nas dimensões social, econômica e cultural, já que tal atividade permite romper preconceitos e estruturas sociais.
As duas pesquisas qualitativas foram desenvolvidas por alunas do programa de Mestrado da instituição e foram coordenadas pela Prof.ª Dr.ª Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo. Foram entrevistadas 11 mulheres motoristas de aplicativos de mobilidade urbana na região metropolitana de Belo Horizonte.
O primeiro estudo buscou compreender a percepção das mulheres quanto às implicações das relações de gênero na atuação profissional de motorista de aplicativos de mobilidade urbana no contexto da economia compartilhada. De acordo com os resultados, as mulheres se identificam com a profissão, que anteriormente era tida como inadequada para elas. Ao dirigir por aplicativos como UBER, 99 e Cabify, a mulher expande sua inserção em mais uma área de trabalho de predominância masculina.
O levantamento evidenciou que mulheres possuem características que facilitam sua inserção neste meio, como serem “mais atenciosas”, “mais pacientes”, “mais gentis”, “mais sensíveis”, “mais cautelosas”, traços que são relacionados ao estereotipo feminino e que as favorecem na execução da atividade.
“Um aspecto importante destacado pelas entrevistadas foi quanto à necessidade de mudar o comportamento para atuar como motorista de aplicativos. Algumas mulheres indicaram que tiveram que ficar mais sérias para evitar avanços indesejados por partes de clientes”, conta a Prof.ª Dr.ª Marlene Catarina. “A falta de segurança é uma questão percebida pelas entrevistadas como algo cultural, já que o Brasil é um país carente de segurança pública. Elas acreditam que correm mais riscos como motoristas devido à relação de poder do masculino sobre o feminino”, enfatiza.
O segundo estudo teve o objetivo de analisar como as relações de gênero e as particularidades da cultura brasileira são percebidas por essas mulheres motoristas de aplicativos de mobilidade urbana em sua atuação profissional e no ambiente de trabalho. A pesquisa verificou que o ambiente de trabalho de motoristas de aplicativo ainda é masculinizado, o que, de certa forma, revelou-se como obstáculo em sua atuação profissional.
“Apesar disso, as motoristas participantes não se enxergaram ou se descreveram como vítimas de um modelo hegemônico de dominação masculina, mas como mulheres confiantes, boas motoristas, em busca de independência financeira. Essas mulheres podem ser vistas como sujeitos de transformação social e cultural, agentes de suas vidas e construtoras de sua própria realidade”, explica a professora.
Entre os fatores que levaram as mulheres participantes a optar por essa modalidade de trabalho está a crise econômica, a facilidade de adesão, a flexibilidade de horários e o fato de a atividade ser individualizante. O estudo sugere também que o grau de escolaridade das entrevistadas (oito delas com curso superior completo, duas com curso superior incompleto e uma com ensino médio) pode ser um fator de emancipação, já que a educação confere às mulheres maior liberdade de decisão e de atuação nos diversos campos sociais.